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Elsa Páscoa, Coordenação

INTRODUÇÃO

SENHORAS DAS ÁGUAS

Portugal é um país de Mar. De um Mar histórico, de um Mar científico, de um Mar económico, de um Mar político, de um Mar de cooperação. E também de um Mar de oportunidades, ou não tivéssemos uma Zona Económica Exclusiva com 1,72 milhões de quilómetros quadrados e a terceira maior da União Europeia. Em breve, essa área poderá vir a ser mais do que duplicada, em resultado do reconhecimento pela ONU dos limites exteriores da Plataforma Continental. 

Enquanto nação, o Mar é uma das espinhas dorsais da nossa identidade, do nosso passado, presente e futuro. Marca a forma como nos definimos, como os outros nos definem e determina grande parte da nossa presença e atuação num Mundo cada vez mais global e interdependente. 

Muito já foi estudado e relatado sobre o Mar em geral e sobre este "Mar Português", em particular. Porém, existe uma perspetiva em que ainda há muito para dizer: a das mulheres. Continua a haver um défice de ângulo feminino nos estudos e crónicas, nas análises e nos debates, no presente mediático e no foco para o futuro. 

Não sendo historiadora, cientista ou economista, careço da formação, da técnica e da experiência necessárias para trazer nova luz à História, à Ciência ou à Economia. No entanto, há mais de um quarto de século que recolher depoimentos e criar narrativas é o meu quotidiano. E foram essas as ferramentas que usei neste "Mulheres e o Mar". 

Durante meses, falei com militares da Marinha de Guerra e oficiais da Marinha Mercante, agentes da Autoridade Marítima, mestres de embarcações, desportistas, cientistas, ambientalistas, jornalistas, artistas e figuras do fortíssimo matriarcado que também é uma das caraterísticas da nossa relação com o Mar. Reuni as suas palavras e algumas das suas imagens e tomei a decisão de publicar os relatos na primeira pessoa, tal como me chegaram ou como os recolhi. Tudo resultou numa obra orgânica, que foi crescendo e tornando-se mais sólida à medida que se multiplicavam os testemunhos. 

De cada vez que recordar o "Mulheres e o Mar", o que vai, com toda a certeza, saltar-me à memória é a imensidão do muito que aprendi nas últimas semanas e a disponibilidade com que foram atendidos todos os pedidos e respondidas todas as dúvidas. Antes do arranque deste projeto, estava longe de imaginar que iria ter a oportunidade de fazer perguntas, por exemplo, sobre resgates no Mediterrâneo, mergulho com tubarões, pilotagem de helicópteros, negociações com entidades portuárias, a melhor forma de surfar ondas ou apanhar vento nas velas, colheitas de espécimes, salvamentos de banhistas, ligação entre a poluição marinha e a saúde mental ou mesmo a venda de peixe em pleno areal. 

O convite feito para coordenar esta obra marcou o início de uma das experiências pessoais e profissionais mais gratificantes da minha vida. 

Em poucas ocasiões me foi dada a hipótese de o fazer com o tempo e a liberdade criativa de que dispus. Nada mais natural, portanto, que agradecer à Diário de Bordo pela oportunidade e a todos os membros da equipa que ajudaram a criar este "Mulheres e o Mar". 

Um forte agradecimento vai também para o Estado-Maior-General das Forças Armadas, os serviços de relações públicas da Marinha Portuguesa e da Autoridade Marítima, departamentos de comunicação da Universidade Nova de Lisboa e da Universidade do Algarve, Federação Portuguesa de Surf, Câmara Municipal da Póvoa do Varzim e às muitas pessoas que deram sugestões e agilizaram contactos. 

Mas a maior dívida de gratidão vai para elas. Para as mulheres que tão generosamente partilharam comigo um pouco das suas vidas e do que as liga ao Mar. São 36, mas poderiam ser muitas mais e qualquer seleção pecaria sempre por deixar de fora carreiras, vivências, perspetivas, emoções. Haverá sempre outras histórias para virem à luz do dia. Ainda assim, acredito que, nas páginas que se seguem, é possível traçar um fresco sobre as nossas "Mulheres e o Mar". 

ELSA PÁSCOA

Lisboa, 18 de fevereiro de 2021

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